Para K
Por mais que te olhe o rosto
e aguarde pacientemente que os portões
se abram, o enigma não se aclara
poderia manter-me dias e dias
e noites sem tempo
que apenas ouviria
o crescer das ervas
e do vento que sopra do Norte.
Já perdi a conta dos dias
e dos anos que esperei
como quem aguarda o nada ou a sombra
e desesperei, mas o tempo,
com as suas invisíveis asas
acabou por triunfar.
Poderia ser Joseph K
ou qualquer outro que espera
o que não chega nem se revela
o que pergunta e nunca ouve
o que sonha e guarda fantasmas
o que ouve vozes no nevoeiro.
Por mais que te olhe o rosto
em busca de sinais
é essa ausência que me faz cair
para fora da língua
e só a espera
uma certa forma de loucura
me habita, essa raíz antiga
e sem nome, que cresce
para dentro da terra.
MJC, in Do Ínfimo
Poesia, vim buscar-te
Gostei muito de ler este seu poema.
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Maria João Cantinho
Muito obrigada!
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