A radicalização da direita

Na última semana assistiu-se ao pânico da direita, que chama em seu auxílio tudo o que tem à mão, desde jornalistas e meios de comunicação até aos empresários de elite. A guerra continuará, ao mesmo tempo que vão retirando medidas do programa do governo e cedendo, para cativar o PS e chamá-lo à razão. O desespero está cada vez mais à vista, acenando com o papão dos comunismo. Não se percebe se é caso para rir ou chorar (de tanta ignorância e preconceito demonstrados).

Não é só a direita se desdobra em insultos e previsões apocalípticas, como assisto perplexa à indignação de uma classe média (que teria tudo a ganhar com o apoio à unidade de esquerda) assustada com a eventual perda de privilégios, revelando uma memória desbotada sobre os direitos que lhes foram retirados, ao longo destes quatro anos. Parece pior a iminência da ameaça vermelha do que uma coligação de direita, cujo programa não é senão uma continuação de política de devastação, como tem sido levada a cabo de forma eficaz.

Sobre o programa da unidade de esquerda parecem não saber nada, infelizmente. Nada sabem sobre as medidas do projecto que tem por objecto o desenvolvimento de uma política de emprego, com medidas efectivas e não a simples máscara de números de estatística, nada sabem sobre a reversão das medidas devastadoras sobre o ensino, a investigação, a saúde, pouco sobre a devolução dos cortes salariais aos funcionários públicos (esses malandros que causaram a despesa do estado!), etc.. Não sabem nem querem saber, pois o que parece importante é o folclore habitual que é promovido pela comunicação social ao serviço do governo.

De facto, o debate sério de ideias e propostas é escasso e abundam as ameaças veladas dos comentadores de serviço, por causa da Europa e de Merkel, do défice, da despesa pública, esquecendo que durante a última legislatura houve um aumento da despesa do estado. Ninguém se questiona, como a unidade de esquerda, o que fazer para travar o processo selvático da privatização, que se estende a tudo. Esquecem que PCP e BE serão a melhor salvaguarda face a essa privatização e às ruinosas parcerias público-privadas e que serão também o maior antídoto para o comportamento vergonhoso dos bancos, que sugam o dinheiro dos contribuintes, enquanto auferem alegremente pensões milionárias aos seus presidentes e administradores.

Costa mostrou-se hoje muito claro, em vários momentos de uma entrevista que foi fracamente conduzida por uma jornalista que trazia recadinhos. Face aos argumentos lassos que a jornalista apresentava, disse que era preciso romper com o arco da governação, para fazer frente a um estado de radicalização da direita. Com esta radicalização não é possível continuar a pactuar, pois é preciso dizer que se o PS quer continuar a merecer o nome de socialista, então é noutro lado que terá de se apoiar para fazer uma política que sirva correctamente os interesses dos cidadãos.

O discurso de Costa é tão lógico e racional que desfaz qualquer preconceito contra a esquerda. E em política é verdadeiramente disto que se trata, de saber negociar para garantir a estabilidade do país. Precisou Costa na entrevista que fazer acordos com o PCP e BE não é fazer “fusões” e que as diferenças ideológicas e partidárias sempre permanecerão. Mas, muito mais importante que isso, é procurar o apoio político que viabilize uma boa política.

Os argumentos de Costa são claros e inequívocos e é por essa razão que o PCP e o BE estão dispostos a acordar com o PS princípios governativos de base, que garantam uma boa política. Se tradicionalmente o PS tem feito alianças com a direita, certo é que nunca a direita neste país foi tão radical e tão intransigente como este último governo. Estabelecer mais uma aliança com a direita representaria para o país a perda da esperança de quem já perdeu tudo por culpa da ingerência dos últimos anos. Seria o fim do PS, também. Coisa que Assis não entende ou não quer entender.

Romper com o paradigma do arco da governação e procurar novas alianças e novas formas de fazer política é, além de inédito, um acto histórico, cheio de significado, para quem acredita no futuro, não só do país, mas da própria Europa, nesse sentido que o efeito de contágio obrigará a Europa a mudar o seu rumo, para não asfixiar economicamente e politicamente. Costa tem a visão de um estadista que olha para o futuro e não se prende ao passado e aos seus fantasmas.

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