“Num futuro distante, comprovada matematicamente a existência de Deus, os homens são obrigados a trocar os seus nomes por números. Ergue-se uma ditadura global, em que todos são controlados e descaracterizados, uma sociedade de uma única religião, em que os algarismos definem tudo – pessoas, países, ruas, animais – , em detrimento da essência de cada um.”
Assim começa a história do novo romance de Samuel Pimenta, um jovem escritor que tem vindo a afirmar-se cada vez mais no panorama da jovem literatura portuguesa. E se há algo que jogue a seu favor é a liberdade da sua escrita. Como não tem amo a quem servir, Samuel Pimenta arrisca, sem fazer favores a modas literárias nem lutar pela inclusão em tribos literárias, o seu próprio caminho.
Os Números que Venceram os Nomes é uma narrativa que configura uma parábola de um mundo desumanizado, vítima da aplicação de um neo-liberalismo desenfreado que nos deixa às portas da morte. Esta morte não é só a física (talvez essa, ainda que derradeira, seja a que menos importa), mas a da humanidade, tomada nos seus valores e ideais. O que pode vir desta desumanização? Samuel Pimenta descreve-nos a história de Um Nove Um Seis, um rapaz que vive obcecado com um telemóvel e trabalha num call center, a quem um episódio psicótico leva à loucura.
É esse momento de desmoronamento que abre a possibilidade da salvação, pois a personagem encetará aí uma busca do seu próprio nome. Em busca de si mesmo e do significado da sua existência, questionando a personagem muitos dos problemas actuais das sociedades contemporâneas. Numa linguagem fluída e poética, Samuel guia o leitor, mostrando que a esperança se aloja ainda em certos lugares que se encontram hoje votados ao abandono, sobretudo os do nosso coração. Onde cabem os nomes das coisas, dos animais e dos homens.