Da fidelidade à política

Nunca um líder político foi tão atacado, de todos os lados, apesar de ainda nem ter governado. A minha estupefacção vai aumentando, à medida que me confronto com os ataques dirigidos a António Costa, um líder que admiro cada vez mais, à medida que o tempo passa e resiste ao desgaste diário, com a obstinação de quem acredita no seu programa.

Talvez a minha ingenuidade e o meu idealismo político obscureçam a minha análise, mas a verdade é que não vejo alternativa sustentável a Costa. E a verdade é que o PS, enquanto partido, só pode sobreviver no futuro, fazendo o que está a fazer, apesar dos ataques de Assis e acólitos seguristas.

Compreende-se muito bem que teria sido mais confortável para o PS alinhar na política da coligação, não oferecendo resistência e deixando-a enfraquecer cada vez mais até à sua queda. Mas o PS também enfraqueceria, na medida em que pactuaria com a devastação das políticas actuais e seria, por isso, co-responsável. O povo português não lhe perdoaria isso. Costa pode não ser um hábil orador e persuasivo, mas tem do seu lado a firme crença nas suas ideias políticas e não tem traído o seu eleitorado desde que chegou. Comprometeu-se a unir a esquerda, desde o início, mesmo que agora venham dizer que não. Talvez julgassem que essa “promessa” não passasse de uma manobra eleitoral, tão ao gosto dos políticos de serviço.

Costa cumpriu o que prometeu. Subiu à liderança do partido, nas primárias, para cumprir essa promessa. Cauteloso a princípio, não se desdobrou em comentários, na altura da crise grega, por saber que, mais tarde ou mais cedo, se pagam os comentários de ocasião. Seguiu a pasokização com atenção, a queda das reivindicações gregas e a desilusão de Tsipras. Deu-se conta que a esquerda esperava um voto de confiança seu para formar uma unidade de esquerda credível. O tempo deu-lhe razão. E, quando a coligação pensava ter o PS na mão, recusou-se ao jogo e deixou a direita cair. Como deixou os infiltrados da direita no PS caírem, revelando uma notável habilidade política.

É natural que quem tinha os seus lugares assegurados receie perdê-los, nesta reviravolta, mas os ataques a Costa são injustificados, pois baseiam-se na falácia e no ataque ad hominem.  Longe vão os tempos em que os comunistas comiam criancinhas e o BE mostrou uma maturidade impressionante, nas últimas eleições. A direita perdeu, não só a sua posição, como a sua postura, desdobrando-se em comentários primários e pueris. Costa, esse, segue imperturbavelmente o seu caminho e só o futuro o dirá, com os riscos que tem pela frente, se estava certo ou não. E, se falhar, não será só por ele, mas por todo um sistema político que está moribundo e podre, incapaz de se renovar. Mas é preciso continuar a acreditar na política como res publica, com todas as consequências que isso comporta, no sentido aristotélico e que é o do Bem Comum. Tudo o que assim não seja não é política, por já ter perdido a base ética que lhe subjaz.

Os políticos não são aqueles seres que se alimentam da nossa pobreza, que vivem à conta do povo e acumulam benefícios, mas os que servem o povo e lutam para que as suas condições de vida melhorem, para que haja justiça e igualdade. A política não se reduz ao mero jogo partidário. Costa sabe disso e pratica-o, em consciência, com sentido de estado e fidelidade ao povo.

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