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Jaime Rocha, Lâmina, Língua Morta, Lisboa 2014 |
“A intensidade metafórica da sua obra, como se verá, é a matriz deste livro, que confirma o percurso de Jaime Rocha como uma voz única na poesia portuguesa actual. Os poemas que compõem o livro já tinham sido anteriormente publicados em antologias, jornais e revistas várias, no período que vai de 1990 a 2013, correndo o risco da dispersão. Jaime Rocha reuniu-os e reestruturou-os, dando ao seu livro uma organicidade própria. É composto por quatro ciclos de poemas: “ciclo das aves”, por sua vez, “ciclo do vento”, “ciclo da música” e “ciclo erros”. Cada um dos ciclos termina com um poema de homenagem, dedicado a um poeta (Fiama, Sophia, Ruy Belo e Cesariny). Iniciando o livro com um poema em que se vislumbra um título algo profético, como “A Língua dos Anjos”, termina-o com um poema elegíaco, dedicado a Sylvia Plath e Elisabeth Siddal (a trágica amante de Dante Rossetti) e outro poema, intitulado “Ruínas”.
Tal organização confere à obra uma estrutura forte, ao nível da sua composição, onde os núcleos temáticos nos aparecem claramente definidos. E a morte constitui a sombra que paira em toda a obra, sob todas as formas: a humana, a da natureza, a da própria luz, num universo poético contaminado pela devastação apocalíptica. A obra é, nesse sentido, alegórica, mas também pelo seu próprio título, no modo como se define um procedimento estético. O olhar do poeta é uma “lâmina” que atravessa, não apenas os corpos, mas o próprio real, dissecando-o, procurando aceder ao que foi outrora o mistério da vida e procurando resgatá-lo, integrando-o no poema.”
Maria João Cantinho, excerto de um texto a publicar brevemente.