Poeta sou, se é isto ser poeta.
Distante, oculto, sibilino. Duro
pedaço de corindo, indício obscuro,
gota abissal de música secreta.
Amor apercebida já a seta.
Dor em riste, uma lança de amargura.
Espírito absorto, na sua clausura.
Imóvel, quieto, coração cata-vento.
Poeta sou se ser poeta é isto.
Angústia lancinante. Pavor surdo.
Velada melodia em contraponto.
Calado enigma atrás de intacto selo.
Meu sonho em fuga. Farto e carrancudo.
Na minha nau fantasma único a bordo.
13 de Abril, 1944.
In Troco a Minha vida Por Candeeiros Velhos, Tradução de Gastão Cruz, ed. Abysmo, Lisboa, 2014
Luís Filipe Miranda
Este comentário foi removido pelo autor.
LikeLike