
Escuta
o rumor de um corpo morrendo,
no estilhaço da noite,
vê como ele se enrola sobre a terra,
como bebe a chuva que cai
na fissura demente do seu corpo,
na luz que alumia as suas entranhas,
vê como abre os olhos
e decifra o que já ninguém sabe,
o olhar fixo nas sílabas do céu,
na morte que rasga o grito da ave.
vê como as suas mãos navegam
na água lodosa do medo,
como elas pressentem a solidão
e queimam o ar como garras,
que se prendem no solo,
adiando o instante,
a queda no abismo.
Maria João Cantinho