A sombra de uma árvore visita-me. O seu rumor de seiva
escoando-se antigo, nos veios da memória.
Lembro-me agora como houve um pássaro
nas páginas deste livro, que me persegue em sonhos.
Como certos objectos que nos perseguem, obstinados
no querer ser em nós, visitam-me as silhuetas de uma outra
existência demorada no silêncio,
retraem-se, ampliam-se, esboçam o contorno invisível
dos nomes que permanecerão mágicos, na nostalgia
das manhãs em que se acendia o mês de Junho.
Visita-me a aura que me assolava, quando o voo
dos flamingos nos acometia num espelho de sangue, pelo crepúsculo,
e nós sabíamos que essa imagem jamais se repetiria.
Visita-me o ritual, onde mulheres de seios nus
se entregavam ao deus que habitava o fogo,
na desmesura da noite.
Nós sabíamos que jamais poderíamos dançar assim
nós sabíamos que jamais poderíamos renascer
assim, no coração da luz.
PRA de Jorge Bernardo
Um pássaro voa para uma sombra de uma árvore, como eu mergulho neste poema, sinto-me protegido pelas palavras e preparado para outros voos.
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Maria João Cantinho
Muito obrigada, Jorge.
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