A sombra avança, tapando a seara
com o seu manto espesso
que chama o uivo da noite
o silvo da tempestade
Era um vento livre que corria
e afagava as espigas
era tal o relampejo, a luz
que fulgia
e nos fugia
Na respiração que havia
nos olhos das crianças
Era tal esse vento livre que nos tomava
e afagava as crinas dos cavalos
nesse lugar em que morávamos
de casas em que as portas
davam sempre para o infinito
e nas janelas viviam poisadas
as nossas mães
e por cima do claro telhado
as aves, o tempo
Era um vento livre, ainda sem forma
sem nome, apenas claridade
aberto, como o riso de um homem sem medo
@Maria João Cantinho