Um cavalo de fogo, a tua voz trémula

Im memoriam de António Ramos Rosa

 

Alucinada, entro no tropel

dos teus versos soltos e largos,

avassaladores,

desenhando-se secretamente

no rumor quase silêncio,

inquieta, esta rosa do tempo

lentamente florindo na noite.

 

Ah, assombro, assombro de um lugar

onde já nem espaço tem para se abrigar,

este frémito do coração,

que bate ao compasso de uma ternura antiga, sem nome.

 

“Alma tatuada de um saber antigo”, digo,

ainda que ninguém me reconheça, me ouça.

 

Um cavalo de fogo, a tua trémula voz,

ressumando na escuridão da minha noite,

escavando uma fissura irreparável

na opacidade do real.

 

Maria João Cantinho

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