A mão

Partimos na frescura da manhã
e só o coração nos guiava,
ouvindo os sinais, a intermitência do vento
que percorria a floresta,
escutando o murmúrio da fonte.

E nada nos era vedado,
pois a nossa busca era outra
inumana e desmedida, por dentro dos nomes
e dessa página aberta, que era a nossa viagem.

E nada nos era vedado
porque outras eram as nossas margens,
outro o nosso desejo, no avesso do dito,
habitávamos as entranhas do tempo
como quem se demora,
sabendo que nada perdura.

E nada nos era vedado,
nessa jornada onde o medo era também liberdade,
outra a nossa fala, esse balbuciar
implodindo na flor do silêncio.

E nada nos era vedado
porque outra era a nossa pátria,
esse canto que subia no coração do dia,
entre o exílio e a promessa.

E nada nos era vedado
porque nunca se parte
apenas se regressa,
prisioneiros da mão do destino,
na passagem entre o sonho e a memória.

Maria João Cantinho

18/08/2011

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