Em breve nas livrarias.
Comecemos pelo paradoxo mais evidente, que, apesar de ter sido bastante analisado, nunca se nos afigura – e felizmente – tão claro e transparente como o desejaríamos: era Benjamin um pensador materialista ou teológico? Parece mais ou menos evidente que a conclusão não pode ser definitiva e creio que optar por uma ou outra resposta é sempre uma atitude redutora. O pensamento de Benjamin é uma arte do excesso, que extravasa todos os limites e margens que queiramos impor-lhe. Ele corre como um rio, cujas correntes se renovam a todo o instante e se cruzam fluidamente.
Atento ao detalhe, ao fragmento, “roubando” citações e imagens, o seu pensamento assemelha-se a uma respiração, como define o próprio. Ao falar do tratado, diz assim: “O pensamento volta continuamente ao princípio, regressa com minúcia à própria coisa. Este infatigável movimento de respiração é o modo de ser específico da contemplação. De facto, seguindo, na observação de um único objecto, os seus vários níveis de sentido, ela recebe daí, quer o impulso para um arranque constantemente renovado, quer a justificação para a intermitência do seu ritmo”. Seguir o vestígio da sua escrita e determinar como se configuram, na constelação do seu pensamento, os temas e os conceitos operatórios foi o objectivo deste trabalho. Em particular, o tema do messianismo na sua obra e de que modo ele se estrutura nos vários domínios. Há uma estrutura messiânica, de facto, isso pressentira no início, com alguma cautela, mas que, ao mesmo tempo, me desafiava o suficiente para tentar descobrir os pontos que lhe são essenciais. A ideia persistente de haver uma estrutura messiânica na sua obra – mas não confundamos com sistema – confirma-se no confronto com os textos da sua juventude, até à descoberta do marxismo, com os últimos textos que Benjamin redigiu sobre a história, nomeadamente «Sobre o Conceito de História».