Poderíamos chamar James Ensor
ou um qualquer pintor do desencanto
antes pintor, diria o outro, o do spleen,
do que fotógrafo, esses idólatras do real.
E a noite das sombras, a do século
que entrou a pique no optimismo da técnica
que faremos dela senão cantá-la?
Withman ou Pessoa, Eliot, ou ainda a miragem de Orfeu
piscando o olho à sua Eurídice
aquela que afinal foi só o século que ficou para trás
não a dos gregos, mas a de uma irredutível
e metafórica despedida
esse mito que desapareceu do nosso horizonte
e no qual se selou o beijo
de uma aura perdida e sonhada
renascida nos ventos do futuro, no cinema
perdida entre catástrofes,
mas o homem não sabe ler
nos rasgões do passado
há sempre um baile que nos espera
uma festa, onde marcámos encontro com o ideal
uma aposta de vida ou de morte
e afinal só vemos desfilar espectros
e sombras de tempos
não parámos para pensar no
depois da música
importa antes permanecer
e continuar neste palco,
enquanto todos dançam
como bonecos desarticulados,
exaustos autómatos, dançando
até que a noite os vença.
Ninguém parou, ninguém pára, ninguém ousará
pensar no que virá depois da música
cairá o palco ou tombarão as sombras?
E o pintor, o que fará?
olgamfonseca
Soberbo, querida Maria João!
Tão tu!
Um beijo
LikeLiked by 1 person
Maria João Cantinho
Obrigada, querida Olga! Um beijo!
LikeLike
Anonymous
…o que faremos nós? “Exaustos autómatos, dançando até que a noite, o cansaço, ou a morte nos vença…
Mensagem num poema maravilhoso, que nos alerta para o completo alheamento moral do que se passa à nossa volta.
Muito Obrigada Maria João
LikeLiked by 1 person
Maria João Cantinho
Eu é que agradeço!
LikeLike